Pandora

Autora: Lady Zehan

 

Ela entra num bar em uma zona perigosa. Precisa beber rápido. Precisa esquecer.

Gente armada até os dentes. Nenhuma mulher.

- Olha só. – fala baixo um corporado obscuro.

- Humm é uma belezura – responde o parceiro.

No balcão ela pede:

- Uma Dakovoff pura.- Ela vira a bebida de uma vez e diz:

Outra.

O barman hesita. Mulher bêbada e sozinha é encrenca.

Encara a moça. Olhos frios. O arrepio na espinha e sua experiência de barman o fazem mudar imediantamente de idéia. Serve e vê os dois corporados vindo pro balcão. Cercam a moça.

O pobre barman já começa a imaginar que vai perder sua poupança e seu gato vai passar fome de novo. Olha enviesado pro ET insignificante no canto do bar. Droga, tinha que ter confusão logo hoje?

- Olá belezura. Sabe que é perigoso andar assim sozinha? – O parceiro olha a moça de alto a baixo.

Silêncio.

O corporado se aproxima, encosta o ombro no dela e propõe - Você é nova não é? Que tal participar da nossa equipe? Nossa corporação pode oferecer muitas vantagens.

Olhando pro decote desliza a mão na cintura dela e continua: - Diversão, dinheiro, segurança, fam...

Quatro tiros. Pessoas correm, pessoas sacam armas. O ET entra debaixo da mesa. O barman começa a rezar, adeus férias em Iceball.

Dois mortos.

Tempo parado.

A moça olha em volta. Nenhum medo.

Devagar ela guarda as armas. Saca uma faca, se abaixa e arranca a insígnia do uniforme dos corporados. Guarda no decote. Vira pro balcão.

- Outra.

O barman se levanta devagar, tremendo serve a moça enquanto três pessoas arrastam os corpos para o canto. Logo virão reciclar.

De uma sombra sai um homem alto. Uniforme impecável. Ele estava discretamente observando tudo. Major de uma poderosa corporação. Olhos risonhos e ar de deboche. Um pirata graduado.

Debaixo da mesa o ET arregala os olhos e encara com urgência o barman. Eles não tinham visto o major. Estão perdidos.

O barman sua frio, pensa que vai desmaiar. Imagina coisas muito ruins. Lembra do gato. Pensa que deviam proibir gente doida de ressucitar.

O Major caminha lentamente até o balcão. Coloca a mão no coldre. Se posta do lado da moça a uma distancia segura. Olha pro barman que pensa em fugir.

- Sirva o mesmo pra mim.

O barman serve e sai de perto.

O pirata olha de lado pra moça e fala baixo. - Gostei da sua atitude, mulher.

Ela vira o rosto lentamente. Olha nos olhos dele. - É?

- É. Vão te perseguir pela morte desses ai.

Ela baixa os olhos e avalia o homem de baixo pra cima, bem devagar.

Ele fica satisfeito. Ela também.

Ela levanta os cílios para o major com um sorriso enorme. - Sim, mas eram desqualificados.

Ela se vira de frente e faz cara de ousada.

O major olha pra moça e se aproxima. – Há quanto tempo você ressucitou?

Ela olha pra baixo encarando as próprias mãos abertas com as palmas voltadas pra cima e responde animada:

- Duas semanas, quatro horas e 20 minutos.

Levanta o olhar e estende suavemente a mão tocando no peito do major. - Seu uniforme é muito bonito.

O tom da conversa dos dois fica íntimo. O bar começa a se acalmar. Enquanto ela estivesse com o major não haveria problemas. As pessoas começam a relaxar menos o ET e o barman.

O major sorri de lado. Tem uma cicatriz. Ela gostou de ver isso.

Ele coloca a mão na cintura da moça e se aproxima perguntando. – Porque você está sozinha?

Ela desliza para perto do major.- Tenho prazeres estranhos.

-Gosta de matar?

-Sim. Mas sabe,... é só mau gênio. - Ela provoca sorrindo perversa.

-Ha, ha. Você é uma pirata nata, sabia? – Ele aproxima o rosto do dela - Quer virar uma matadora profissional?

- Não, não é isso que eu quero. – Ela diz com suavidade agarrada nele.

O major sente com mal estar uma lâmina entrando no estômago e vê o olhar de satisfação dela. Empurra a mulher, mas não dá tempo. Ela estava preparada e puxa a arma disparando dois tiros. Ele cai no chão com cara de espanto.

As pessoas gritam e correm pra fora. O barman horrorizado não consegue se mexer. Aquela mulher é completamente doida em matar um major pirata. O ET fica confuso. Sente emoções estranhas.

Eu nunca esqueço... vou pegar você sua... - O Major morre.

Encarando o morto ela se abaixa limpando a faca no uniforme impecável. Arranca a insígnia sorrindo com frieza e guarda no decote enquanto diz:

- Eu espero.

O barman dá uma última olhada no alien. Dane-se. Decide fugir. O ET desesperado não sabe o que fazer. Olha pra porta e começa a calcular como sair dali.

Ela levanta, olha em volta. Enxerga o ET saindo desajeitado debaixo da mesa.

-Ei você!

O ET congela e olha pra moça com a arma apontada pra ele.

-Eu?!

-Sim, só tem você. Tou precisando de um assistente. Quer emprego?

Hãhhnn... mas...

Ela aponta a arma ameaçadora.

- Mas o quê? Aposto que deve ser caro um clone pra você.

O ET apavorado e sem saída responde rápido levantando as mãos.

- Não, por favor não tenho dinheiro. Preciso mesmo de trabalho. Eu vou sim, claro!

- Você pega vírus de humanos?

-Não, eu...

-Então vamos pra Urano. Vamos pilhar os Zumbis que ficam minerando Hidrocabonetos. Tou precisando de mais grana. Eu pago um clone pra você. Anda!

Ela se vira pra porta. O ET olha pra cima e pergunta com voz fraca - Mas lá não tem uma virose que causa isso?

-Eu sou imune. - Ela pára. Olha pra ele. - E pulgas? Você tem?

- Não, eu...

-Muito bem. Meu cachorro morreu e deixou a nave infestada de pulgas. Você vai acabar com elas. Anda!

O ET começa a andar e diz com voz meio trêmula - Claro...

Ela pára aponta a arma e brada - Claro o quê?!

O ET apavorado com a ameaça diz mais seguro – Claro! Claro! Vou matar as pulgas chefe!

- Chefa!

-Ah, desculpe, desculpe chefa!

Ela caminha pra porta e olha pro ET indeciso. Sacode a arma - Anda logo! Você é muito devagar! Passa na frente.

Ele acelera o passo – Sim, sim, chefa!

Ambos saem.

Ela, satisfeita pelo torpor, as insígnias e o assistente novo.

Ele, aliviado por ter escapado. Que sorte, estava seguro por um tempo.

Peraí, como assim ela é imune?!
 

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